quarta-feira, março 28, 2007

John Mitchel - Um homem sem sorte (1º Capítulo)

John Mitchel expirou outra baforada de fumo, enquanto olhava para a dança monótona da stripper que se bamboleava no canto do palco. Reparou no copo de whisky que pedia mais uma recarga, e fez um sinal mudo para a empregada de olhos cansados, que se encontrava encostada à ponta do balcão. O ambiente taciturno era o ideal para o seu estado de espírito. Estava cansado, dormente, e interrogava-se o que fazia ali, ao invés de se deitar na sua cama por fazer e esperar acordar já longe da sua vida.
Um homem novo e de trajos finos entrou no bar, e dirigiu-se ao balcão. Após uma breve conversa com o barman, dirigiu-se à sua mesa, e perguntou num tom embaraçado, quase inaudível:
- John Mitchel?
- Sim, sente-se – respondeu entre dentes.
- Sabe porque estou aqui – indagou o homem, enquanto pousava o chapéu preto de abas curtas na mesa.
- Não é para me falar do tempo, e de politica eu não estou interessado, por isso sugiro que vá direito ao assunto, porque tenho mais que fazer.
- Bem, disseram-me que era o homem indicado para a missão que lhe quero incumbir.
- Não acredite em tudo o que ouve – replicou Mich enquanto admirava a cor do whisky contra a luz ténue de uma lâmpada vermelha. O homem curvou-se sobre a mesa, e murmurou, como se mais alguém estivesse interessado na conversa:
- Sei que a minha mulher me trai, e preciso de provas concretas para poder colocar as cartas na mesa. Preciso de fotos, gravações, vídeos, ou o que quer que seja que vocês fazem. E preciso das mesmas para muito breve.
O homem passou a mão na testa, e em seguida olhou para o detective com uma expressão de quase desespero.
Mitchel olhou-o de soslaio. Era um homem novo, e o seu aspecto cuidado indicava dinheiro, poder. Havia algo mais que não estava a ser contado, mas precisava do dinheiro, e algo em que ocupar o espírito.
- 1000 Euros agora, e outros tantos no fim do serviço – exclamou enquanto tentava arranjar espaço no cinzeiro para apagar mais um cigarro.
- Muito bem. Posso passar um cheque?
- Não – disse Mitchel enquanto se levantava – amanhã à 1 da tarde, no restaurante “Mar Adentro” no Cais do Sodré. Para além do dinheiro, preciso do itinerário regular da esposa, e se tiver acesso aos extractos bancários também ajuda.
- Ok. Lá estarei, mas quanto aos dados bancários vai ser difícil. Eu vou tentar, mas não prometo nada.
Mitch levantou-se e saiu sem se despedir. Aquele vento frio não trazia bons ares, mas nada o podia preparar para a noite seguinte…