terça-feira, outubro 11, 2005

Um citadino no meio das videiras.


Nasci e cresci na cidade. E como tal, existem certas coisas que para uns são o dia-a-dia, e para outros só se vêm na televisão, ou se avistam ao longe quando passamos de carro na altura das férias.

Mas pois é, este ano as coisas mudaram. E lá fui eu de tesoura na mão, chapeu na cabeça, e muita vontade de saber como se fazia. O tempo era apropriado. Sol, muito sol. As videiras bem carregadas aguardavam que fossem colher os cachos sumarentos. E eu estava lá para tentar, dar conta do recado...

Realmente, não tem nada que saber. Basta cortar os cachos, colocar no balde ou lata, e em seguida despejar no tanque que se encontra preso ao tractor. Mas a magia da situação encontra-se nos pormenores dos entretantos.

É espectacular poder ouvir os canticos que se entoam por gentes da terra. Transportou-me de imediato para uma outra dimensão. O som que ecoava por entre as folhas era realmente mágico. Outros contavam histórias, e sorriam sem se olhar. Histórias passadas muitos anos antes, no outro tempo...

A Ti’Manela, uma senhora idosa sentada numa cadeira de madeira, acendia o fogo para o petisco da manhã. Não tardou muito até se poder inalar o cheiro bom de algumas entremeadas que brilhavam nas brasas. Vinho tinto, cerveja fresca ou sumo, ajudavam a carne e o pão a descerem goela a baixo. Ao longe o Ti’ Jaime aparecia montado no seu tractor, depois de ter descarregado mais um tanque de uvas no lagar.

Não sei se, ou por ser muita gente, ou por serem poucos corredores, ou ainda se trabalhámos demasiado rápido, mas o que é certo é que a coisa foi feita durante o periodo da manhã.

Depois fui despejar o ultimo tanque de uvas. Pela estrada fora, e com o Ti’ Jaime ao volante, dirigimo-nos ao lagar. Aí, o bonito cheiro do mosto já pairava no ar, invejando o próprio Baco. Um aparelho “electricoartesanal” ia pisando as uvas à medida que caiam no tanque. O bouquet de aromas preenchia deliciosamente o ar que respirava. Eu, qual enólogo, apreciava cada segundo.

Para terminar, e depois de um bom banho de agua fria, nada como um excelente almoço para poder continuar a ouvir histórias de outrora, repletas de sonhos e saudades de quem as contava.

Saúde.

4 Comments:

Blogger a said...

(que praga estes comentários!...)
Olá! Alimento para a alma lidar com realidades diferentes, não é? Beijinhos

11 outubro, 2005 14:41  
Blogger Sonia Almeida said...

Eu sou uma afortunada, apesar de ser citadina, sempre pude passar férias na terra da minha avó, e assistir a todos esses rituais de cultivo, que só enriqueceram a minha infância. é realmente mágico, não é?
beijinhos

13 outubro, 2005 14:40  
Anonymous Anónimo said...

um regresso á terra, é sempre algo de magico e de purificador. ver como se faz, fazer e sentir o aroma da terra e das uvas. è sem duvida uma experiencia magnifica.

18 outubro, 2005 22:50  
Blogger Maria Heli said...

Olá!
Encontrei-te ali, na Crazy e...vim espreitar.
Gostei deste post. Fez-me recordar. Apesar de ter nascido e vivido (vivo) na cidade, as minhas raízes estão, onde estão as das videiras.
Na terra. Numa terra ancestral, sem a qual não vivo. Por sorte, pousada na meseta ibérica!
Onde tenho raízes.

19 outubro, 2005 13:37  

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